Frederico Machado Barros, primeiro líder
João Vicente Vidal, segundo líder
Objetivos
O Grupo de Pesquisa “Música Brasileira em Perspectiva: Práticas comuns dos séculos XVIII ao XX” surge da reunião de seus fundadores em torno de duas preocupações comuns de pesquisa: a verificação da ausência, e consequente necessidade de criação, de uma panorama geral, de uma master narrative, para a música brasileira; e secundariamente a insatisfação com o predomínio, na musicologia histórica brasileira, de interpretações não plenamente ancoradas no texto musical propriamente dito. A partir da constatação de tais lacunas, o Grupo de Pesquisa formaliza suas preocupações em três momentos: a) aquele da crítica à historiografia musical brasileira, e especialmente das narrativas de cunho modernista; b) o momento da busca por uma orientação de pesquisa que colabore para uma revisão dessa historiografia; e c) o momento da organização de temas, tarefas e métodos de trabalho que viabilizem tal revisão.
Campo teórico
Com base nesta percepção, coloca-se a necessidade de uma abordagem geral da música brasileira dos séculos XVIII ao XX que ultrapasse dogmas e determinismos ainda hoje cristalizados na historiografia musical do país, estabelecendo um conjunto de referenciais relativamente gerais sobre a música que se produziu no país capaz também de respeitar especificidades de cada momento. Tal trabalho de pesquisa deverá preencher assim uma lacuna fundamental na historiografia musical brasileira, realizando, através de todos os problemas teóricos e metodológicos de uma tal empreitada, algo que os países europeus vêm realizando desde pelo menos o século XIX – de forma que, uma vez feito este trabalho, que pode-se entender até como uma espécie de ‘aplainamento do terreno’, será então possível avaliar criticamente o que se tem à frente e propor refinamentos, apontar descontinuidades e mesmo reavaliar os cânones erigidos ao longo da nossa história.
Um conceito particularmente propício, para este trabalho, é aquele de ‘prática comum’. Embora remonte a períodos relativamente remotos da história da música ocidental, por exemplo na forma da dicotomia entre prima e seconda prattica do século XVI italiano, a noção de que regularidades existem que podem colaborar para caraterizações gerais de escolas, gêneros e períodos históricos ressurgiu com especial força na literatura musicológica das últimas décadas. Exemplificam esse desenvolvimento a compreensão do cromatismo como ‘segunda prática’ da tonalidade do século XIX (KINDERMAN E KREBS, 1996), ou a proposição de uma ‘prática comum estendida’ para a linguagem de compositores da primeira metade do século XX como Bartók, Stravinsky e Villa-Lobos, entre outros (TYMOCZKO, 2011; STRAUS, 1990; STRAUS, 2000; ANTOKOLETZ, 1992). No âmbito da historiografia musical brasileira, devemos notar que a noção de regularidade ou ‘constâncias da música brasileira’ já pode ser encontrada em Mário de Andrade (ANDRADE, 2006) e em compositores que o seguiam do seu círculo mais próximo como Guerra-Peixe e Guarnieri, e pode ser aproximada da noção de ‘prática comum’ cunhada pelo compositor Walter Piston para caracterizar aquilo que apresentaria, em seu livro de harmonia (PISTON, 1987). O conceito englobaria, aqui, desde uma simples recorrência de elementos até – mais importante – seus usos (cf. HENNION, 2011; DeNORA, 2003; SWIDLER, 1986). Trataria, ademais, não apenas de modos e células rítmicas ou melódicas ou preferências harmônicas, mas também de formas, procedimentos e lógicas composicionais e formais, e o que quer mais que se possa detectar como constituindo o que se pensa e pratica para produzir música.
Metodologia
O Grupo de Pesquisa ‘Música Brasileira em Perspectiva’ propõe, portanto, uma abordagem multidimensional do repertório musical brasileiro dos séculos XVIII ao XX. A definição do que será prioritariamente abordado decorrerá dos próprios contextos de produção, dado o imbricamento entre análise musical e investigação histórica aqui proposto. Sendo assim, as análises são guiadas pela própria perspectiva dos atores sociais que nos interessam, partindo de dois eixos principais: os séculos XVIII e XIX, por um lado, e o modernismo, de outro, girando especificamente em torno dos compositores de concerto brasileiros da primeira metade do século XX.