Musicalidade Abrangente na pós-modernidade: processos integrados de produção, transmissão e aquisição de conhecimento musical em situações formais, não-formais e informais de ensino e aprendizagem na diversidade etnográfica das vivências musicais no Brasil

Projeto de pesquisa do grupo Educação Musical, Musicalidade Abrangente e Diversidade Cultural

Sergio Alvares, docente responsável
João Miguel Bellard Freira, docente
Fabio Adour, docente
Emerson Costa, mestrando
Fernando Giongo, mestrando
Luiz Antonio Prior, mestrando
Vera Kingkade, mestranda
Vinícius Rodrigues, mestrando

Idioma alternativo para processo seletivo (Doutorado): espanhol ou francês

DELIMITAÇÃO DO TEMA:
A musicalidade abrangente é um termo usado pelo autor para descrever a transdisciplinaridade1 na vivência musical. A transdisciplinaridade é um enfoque pluralista do conhecimento que tem como objetivo, através da articulação entre as inúmeras faces de compreensão do mundo, alcançar a unificação do saber. Esta expressão foi criada pelo educador Jean Piaget, durante o I seminário Internacional sobre Pluri e Interdisciplinaridade, o qual se desenrolou em 1970, na Universidade de Nice; nesta ocasião foi originalmente utilizada esta palavra, deflagrando uma série de pesquisas sobre seu significado e as implicações por trás desta ideia, estimuladas pelo seu próprio criador. Depois de Piaget, o termo foi resgatado por vários outros pesquisadores, entre eles Edgar Morin, Stephane Lupasco, Basarab Nicolescu e Ubiratan D’Ambrosio. O tema é hoje um dos elementos científicos mais difíceis de se compreender, e talvez por esta razão um dos mais abordados por pesquisadores de todo o Planeta; é necessário agir com muita cautela no processo de relacionamento entre as disciplinas, para que elas possam, simultaneamente, amparar-se mutuamente e preservar sua singularidade, evitando incorrer no erro de se converter em uma única esfera do conhecimento. No processo educacional é imprescindível recorrer à transdisciplinaridade, a qual, desde o século XX, vem se desenvolvendo no meio acadêmico, visando conectar o campo universitário ao restante da sociedade, distanciados justamente pela tendência à máxima especialização profissional. (SANTOS, 1995). da realidade articulando elementos que passam entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade do mundo real Tal conceito de abrangência pode ser relacionado com os princípios da Gestalt que, na Europa do século XIX, possibilitou o estudo da percepção indicando que o todo é maior que a soma das partes (Willoughby, 1971). Sob este conceito, a pesquisa aborda a vivência musical unificada levando-se em consideração as existentes subdivisões da música em disciplinas e suas relações com o todo, ou seja, com a música integralmente como um modo de conhecimento.

1 A transdisciplinaridade é um enfoque pluralista do conhecimento que tem como objetivo, através da articulação entre as inúmeras faces de compreensão do mundo, alcançar a unificação do saber. Esta expressão foi criada pelo educador Jean Piaget, durante o I seminário Internacional sobre Pluri e Interdisciplinaridade, o qual se desenrolou em 1970, na Universidade de Nice; nesta ocasião foi originalmente utilizada esta palavra, deflagrando uma série de pesquisas sobre seu significado e as implicações por trás desta ideia, estimuladas pelo seu próprio criador. Depois de Piaget, o termo foi resgatado por vários outros pesquisadores, entre eles Edgar Morin, Stephane Lupasco, Basarab Nicolescu e Ubiratan D’Ambrosio. O tema é hoje um dos elementos científicos mais difíceis de se compreender, e talvez por esta razão um dos mais abordados por pesquisadores de todo o Planeta; é necessário agir com muita cautela no processo de relacionamento entre as disciplinas, para que elas possam, simultaneamente, amparar-se mutuamente e preservar sua singularidade, evitando incorrer no erro de se converter em uma única esfera do conhecimento. No processo educacional é imprescindível recorrer à transdisciplinaridade, a qual, desde o século XX, vem se desenvolvendo no meio acadêmico, visando conectar o campo universitário ao restante da sociedade, distanciados justamente pela tendência à máxima especialização profissional. (SANTOS, 1995)

O conceito de integração é central à definição de musicalidade abrangente. Práticas interpretativas individuais e coletivas, teoria e análise musical, composição e improvisação, metodologias pedagógicas e aspectos históricos e sociológicos da música são subáreas convenientes para um aprofundamento especializado, mas corre-se um risco de excessiva fragmentação em prol de um aperfeiçoamento muitas vezes isolacionista. A partir de uma abordagem transversal das diversas disciplinas em que a música se fragmentou durante os últimos séculos, um enfoque transdisciplinar pode proporcionar uma vivência musical mais significativa, expansiva e integralizada (Alvares, 1999, 2000, 2016).

Particularmente para os professores de música na educação básica, a pesquisa: (a) parte do pressuposto de que: (i) a formação acadêmica da licenciatura ou do bacharelado oferece um currículo dividido em disciplinas que nem sempre se conectam durante o ensino superior; e (ii) no exercício de educador musical, principalmente nos anos iniciais da profissão, o professor de música depara-se com o desafio de ensinar música de uma forma integrada e transdisciplinar para uma turma de alunos que apresenta vivências e expectativas diversificadas; e (b) investiga formas tradicionais e informais de transmissão do saber musical presenta na etnografia das práticas musicais no Brasil em tempos de pós-modernidade2.

2 Segundo Maffesoli (2014b), o conceito de pós-modernidade designa a condição sociocultural e estética após a queda do Muro de Berlim (1989) e a crise das ideologias nas sociedades ocidentais no final do século XX, com a dissolução da referência à razão como uma garantia de possibilidade de compreensão do mundo por meio de esquemas totalizantes. Para Vattino (2001), a pós-modernidade aparece como uma espécie de Renascimento dos ideais banidos e cassados por nossa modernidade racionalizadora. Esta modernidade teria terminado a partir do momento em que não podemos mais falar da história como algo de unitário e quando morre o mito do Progresso. O tripé moderno era: (a) trabalho; (b) racionalismo; e (c) progressismo. O tripé pós-moderno é: (a) criação ou criatividade; (b) razão sensível; e (c) progressividade (MAFFESOLI, 2014a).

OBJETO DE ESTUDO:

A musicalidade abrangente, como objeto de estudo e pesquisa, descreve-se como um processo integrado de experimentação nas diversas formas de vivência musical encontradas no cenário multi-etnográfico brasileiro. A conceituação do objeto de investigação foca-se na delineação de uma abordagem interativa priorizando a transdisciplinaridade em áreas muitas vezes rigidamente segmentadas nos processos de vivência musical do indivíduo.

Lançando uma transversalidade nos âmbitos da prática interpretativa, da teoria musical e dos fundamentos históricos e socioculturais das etnografias musicais, o objeto de exploração delineia-se num perfil de imersão abrangente na diversidade das vivências musicais no Brasil.

OBJETIVO DA PESQUISA:

A pesquisa tem como objetivo investigar os diversos processos de produção, transmissão e aquisição de conhecimento musical contextualizados na riqueza e diversidade das manifestações artísticas no Brasil. A investigação traça um roteiro indiscriminado rumo aos processos formais, não-formais ou informais alusivos ao saber musical.

Seu alvo é explorar as possibilidades disponíveis de enriquecimento musical significativo, observando, descrevendo, relatando, documentando, analisando, participando, interagindo, realizando ou produzindo atividades ou materiais de cunho acadêmico-científicoculturais.Almeja-se também o fomento da cooperação acadêmico-científico-cultural com outras instituições ou artistas e indivíduos a fim.

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS:

O conceito de musicalização abrangente parte da década de 1960, nos E.U.A., incluindose nos seguintes movimentos acadêmicos:

(a) the Young Composers Project;

(b) the Contemporary Music Project;

(c) the Yale Seminar;

(d) the Juliard Report Project;

(e) the Tanglewood Symposium;

(f) the Harvard Project Zero;

(g) the Hawaii Curriculum Project; e

(h) the Manhattaenville Project, entre outros.

A pesquisa aborda os processos de produção, transmissão e aquisição de conhecimento musical segundo os conceitos de saber proposicional e não-proposicional delineados por Alvares (2006).

A pesquisa refere-se aos conceitos de educação formal, não-formal e informal definidos por Libâneo (1999).

A questão da diversidade etnográfica e suas múltiplas manifestações culturais fundamenta-se nos pressupostos de Geertz (1989) e Merrian (1964) que interpretam a cultura como um código de significados validadores da existência humana.

A pesquisa contempla os critérios adotados por Labuta (1991) referentes às áreas cognitivas, psicomotoras e afetivas de aprendizagem musical. Tais critérios foram desenvolvidos a partir da taxonomia instrucional de Bloom (1965).

ENFOQUES METODOLÓGICOS:

Levando-se em consideração as terminologias utilizadas por Severino (2008) e Freire (2010), a pesquisa norteia-se nos seguintes enfoques metodológicos: (a) caráter exploratório, visando estabelecer uma aproximação preliminar ou aprofundada com o objeto de estudo e seus possíveis desdobramentos; (b) caráter descritivo, concentrando-se na descrição ou documentação de um fenômeno ou conjunto de fenômenos, podendo ter uma abordagem subjetiva ou objetiva; (c) caráter participativo, onde o pesquisador compartilha a vivência dos sujeitos pesquisados; e (d) caráter etnográfico, buscando compreender, na imersão da cotidianidade microssocial, os processos explorados.

Alinhando-se aos enfoques supracitados, a pesquisa debruça-se prioritariamente sobre uma abordagem qualitativa referindo-se mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especificidades metodológicas.

JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA:

O Brasil é um país de dimensões continentais com uma riqueza e diversificação cultural de caráter ímpar e notório. Apesar das diversidades regionais, a nação e o povo brasileiro mantém uma unidade sociocultural significativa e de grande respaldo perante o cenário internacional. Tais fatos trazem à tona a relevância de um estudo voltado para as práticas vivencias da cultura musical no Brasil.

A lei federal n.º 13.278/2016, em seu artigo 1º, parágrafo 6º, altera a lei 9.394/1996 e fixa as diretrizes e bases da educação nacional, referente ao ensino da arte, com a inclusão da música, dança, teatro e artes visuais como linguagem que constituirão o componente curricular na educação pública formal e determina um prazo de cinco anos para a adequação de sua implementação, ou seja, até 2020. Uma pesquisa sobre os processos integrados de produção, transmissão e aquisição de conhecimento musical com um viés interdisciplinar nas práticas formais, não-formais e informais das vivências etnográficas no Brasil pode oferecer uma colaboração, neste momento histórico, na adequação de conteúdos programáticos na grade curricular da educação pública brasileira.

Durante os últimos anos, o autor vem abordando temas relacionados (Alvares, 2005a, 2005b, 2007, 2009, 2015, 2016a, 2016b).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALVARES, S.L.A. A needs assessment and proposed curriculum for incorporating traditional Choro music experiences into Brazilian university music curricula. International Journal of Music Education. Inglaterra: ISME, n. 34, p. 3-13, nov. 1999.

__________ 500 anos de educação musical no Brasil. In XII Encontro Nacional da ANPPOM, n. 12, 1999, Salvador. Anais… Salvador: ANPPOM, 2000, 1 CD-ROM.

__________ A educação musical curricular nas escolas regulares do Brasil. Revista da ABEM. Porto Alegre: ABEM, n. 12, p. 57-64, mar. 2005a.

__________ Teorias do desenvolvimento cognitivo e considerações sobre o aprendizado de música. In I Simpósio Internacional de Cognição e Artes Musicais, 2005, Curitiba. Anais… Curitiba: UFPR, p. 63-71, 2005b.

__________ Vertentes do saber musical. In B. Ilari (Org.) Em busca da mente musical. Curitiba: UFPR, p. 429-452, 2006.

__________ Breve panorama da educação musical no Espírito Santo. In A. Oliveira e R. Cajazeira (Org.) Educação musical no Brasil. Salvador: Sonare, p. 157-160, 2007.

__________ Music as means of pleasure and communication. In M.C.P. Campos e F.J.Q. Figueiredo (Org.) Culture and arts in Brazil and in the United States. Viçosa: UFV, p. 135-140, 2009.

__________ A educação musical na diversidade sob a perspectiva da musicalidade abrangente: Considerações sobre a reunificação do saber fragmentado na sociedade pósmoderna. In 14º Colóquio de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro… Anais. Rio de Janeiro: 2015. Disponível em: < https://ppgmufrj.files.wordpress.com/2016/12/05-a-educac3a7c3a3o-musical.pdf&gt; Acessado em: 08 jun. 2017.

__________ Considerações sobre a educação musical na diversidade sob a perspectiva da musicalidade abrangente. In T.S. Alvares e P. Amarante (Org.) Educação musical na diversidade:construindo um olhar de reconhecimento humano e equidade social em educação. Curitiba: CRV, p. 73-110, 2016a.

__________ Considerações sobre a formação inicial e continuada do professor de música na sociedade pós-moderna sob o conceito da musicalidade abrangente. In X Encontro Regional sudeste da Associação Brasileira de Educação Musical. Rio de Janeiro: 2016b. Disponível em: <http://www.abemeducacaomusical.com.br/conferencias/index.php/xregsd/regsd2016/paper/ viewFile/1704/1070> Acessado em: 08 jun. 2017.

BLOOM, B.S. et al. Taxonomy of educational objectives. In: B.S. Bloom (Org.) The classification of educational goals, p. 201-207. New York: David McKay, 1956.

FREIRE, V.B. Horizontes da pesquisa em música. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2010.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1979.

LABUTA, J.A. Guide to accountability in music instruction. New York: Parker, 1974.

LIBÂNEO, J.C. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez, 1999.

MAFFESOLI, M. Homo eroticus: comunhões emocionais. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014a.

__________L’ordre des choses: penser la postmodernité. Paris: CNRS Editions, 2014b.

MERRIAN, A. The anthropology of music. Evanston: Northwestern University, 1964.

SANTOS, R. Transdiciplinaridade. Cadernos de Educação. Lisboa: Instituto Piaget, n. 8, p. 7-9, 23 nov. 1995.

SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2008.

WILLOUGHBY, D. Comprehensive musicianship and undergraduate music curricula. E.U.A: Contemporary Music Project, 1971.